terça-feira, 26 de junho de 2007

Novos textos, novas extensões. Novo homem?

Enio Moraes Júnior

Gosto da palavra. Gosto especialmente da palavra escrita. Plagiando o pensador canadense Marshall McLuhan (1964), que nos anos 60 disse que os meios de comunicação são extensões do homem, costumo dizer que as nossas palavras são a exata extensão do que somos e do que conhecemos.
Sou jornalista e professor de Comunicação Social há mais de dez anos e sempre tive especial predileção pelas teorias da comunicação e do jornalismo. Num país onde professores de jornalismo, por razões pessoais ou exigências profissionais, decidem entre a carreira acadêmica e o batente, ironicamente fui levado ao batente da reportagem como uma exigência das teorias acadêmicas.
Por um lado porque comecei a preocupar-me em desenvolver um modo mais atraente de chamar a atenção dos alunos para o que eu estava propondo. Na sociedade da técnica e da imagem, o aluno de comunicação social (e, ao que parece, das outras áreas também) está normalmente mais inclinado com o conteúdo prático do curso e um caminho a levá-lo a teorizar, a refletir, é colocá-lo em contato com a dinâmica da vida profissional e com a própria produção.
Comecei a utilizar conceitos e reflexões como indústria cultural (Adorno e Horkheimer), sociedade do espetáculo (Debord) e jornalismo como "modelo de publicidade" (Chomsky) para dissecar e a interpretar matérias jornalísticas de jornais, revistas e sites.
Por conta dessa forma de trabalho, entusiasmei-me com a prática da reportagem e, embora a vida acadêmica seja minha prioridade, há alguns anos estou no mercado também como repórter e revisor. No meu caso, em vez de atrapalhar, esse caminho tem ajudado na vida acadêmica.

O texto jornalístico
Uma das coisas mais instigantes que tenho feito nos últimos dois anos é produto dessa experiência. Tenho me preocupado, a partir das teorias e do trabalho de reportagem, com os rumos do texto jornalístico diante do advento das novas tecnologias de comunicação.
Na primeira quinzena de junho, São Paulo foi sede do MediaOn, I Seminário Mundial de Jornalismo On Line, cuja abertura contou com nomes como Paulo Henrique Amorim e Michael Rogers, do grupo New York Times.
Uma das indicações dos painelistas do evento foi que ainda estamos muito longe de prospectar o que realmente viremos a ser nos próximos dez ou quinze anos. A convergência midiática praticamente ainda não começou e estamos convivendo apenas com a primeira geração que cresceu com a internet.
O filósofo tunisiano Pierre Lévy (2003) disse há pouco tempo que as novas tecnologias de comunicação implicam novas formas de ser e estar no mundo. Considerando que elas implicam também novas formas de comunicação, são também novas formas de extensão.
O que tem chamado minha atenção nesses últimos tempos e instigado meu trabalho é exatamente apreender o sentido do texto jornalístico na era neotecnológica.
Mas acho que a palavra, falada ou escrita, continuará a existir e uma lição de Graciliano Ramos ainda ecoará por muito tempo pelas redes (NERY, [s.d]):

[...] deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa seja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso: a palavra foi feita para dizer.

Embora estejamos entrando em um mundo de novos significados, de novos textos e de novas extensões, estamos criando novos homens? Penso que sim. Mas penso também que a palavra, as teorias e o jornalismo, tríade de que tanto gosto, deve permanecer num esforço contínuo para que o homem continue humano.

Referências bibliográficas
LÉVY, Pierre. Pela Ciberdemocracia. In: MORAES, Denis de (org). Por uma outra comunicação. Rio de Janeiro: Record, 2003.
McLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 1964.
NERY, Alfredina. Coesão e coerência. [s.d]. Disponível em: Acessado em 15 de outubro de 2005

5 comentários:

Railton Da Silva disse...

Enio seu blog é legal,
trais muitas informações, sempre q vinher na net darei uma olhadinha.
um abraço e sucesso.

Unknown disse...

Olá, Enio.

Ontem tive a oportunidade de assistir a uma palestra sua na FASB, e hoje não me contive a ver seu espaço.
Gostei da forma como se expressa e da maneira com que aborda temas tão polêmicos e ao mesmo tempo tão evitados, por alguns. Cativa o leitor, estudante, sujeito, cidadão.
Obrigada pela presença na faculdade e pelas palavras geradoras de importante reflexão para nossa formação.
Até mais!

Anônimo disse...

Concordo com seu apontamento, Enio. As palavras são extensões do ser humano ... aí é que precisamos ter total consciência dos significados ... as escolas deveriam se empenhar nisto! Por uma boa comunicação!
Muito bom seu blog
grande abraço

Anônimo disse...

Concordo com seu apontamento, Enio. As palavras são extensões do ser humano ... aí é que precisamos ter total consciência dos significados ... as escolas deveriam se empenhar nisto! Por uma boa comunicação!
Muito bom seu blog
grande abraço

Anônimo disse...

Enio, gostei do seu blog. Sou estudante de Jornalismo e queria conversar um pouco mais com vc. Estou fazendo o meu TCC e talvez você poderia ser uma fonte. Vou fazer análise de conteúdo sobre revistas masculinas. Caso você se interesse me mande um emal
jaque.ribeiro1@gmail.com
Grata
Jaqueline Ribeiro