domingo, 28 de maio de 2006

Ousadia De Fatto! : fazer fanzine faz diferença

Enio Moraes Júnior

Há duas ou três semanas, no início de maio, um grupo de alunos de jornalismo que está produzindo um fanzine - "Jornalismo De Fatto" (já estão na quarta edição) - convidou-me para participar como ombudsman. Avaliei o material com muito prazer, de especialmente pela inciativa do grupo e lembrei-me que, quando eu era estudante de jornalismo, há dez anos, também tive o meu jornal: "Em Aberto"(!).
Mas sem muito mais conversa, para que a iniciativa do grupo sirva de exemplo - sei que muitos dos meus alunos acessam este espaço - passo a dividir com os leitores deste blog o texto que escrevi.



O grande mérito de Jornalismo De Fatto é, sem duvida, o exercício da liberdade de expressão. Neste sentido, o jornal traz à tona diversas falas. No entanto, essas falas precisam ser contextualizadas em matérias mais bem apuradas e textos mais bem costurados. Afinal de contas, o trabalho do jornalista está pautado na difusão da notícia correta e completa, capaz de conduzir o público a agir em nome dos seus direitos.
"Raízes do Brasil" é superficial e generalista do início ao fim – “tantas dificuldades”; “gama de oportunidades” etc – e por isso o texto parece incompleto. Falta-lhe fôlego. "Drama de uma mãe" esbarra no ‘drama’ indicado no título, que fica claro no tratamento ‘chavão’ dado ao amor materno incondicional. Ao invés de reforçar o estigma afetivo, talvez fosse mais interessante discutir os caminhos para as mães reagirem judicialmente às agressões que seus filhos sofrem em infernos como as febens.
"Admirável mundo novo" traz uma entrevista com uma ex-BBB. O texto informa que a moça, moradora da periferia paulistana, teve sua imagem exposta no programa, gerou alguma discussão e saiu sem levar o prêmio. O que há de novo? Pelo contrário, a entrevista apenas reforça e reproduz as velhas curiosidades midiáticas.
O princípio do jornalismo é a notícia que gera debate e muda a vida das pessoas. Segundo o professor e pesquisador da USP Manuel Carlos Chaparro, jornalismo funde Ética, Técnica e Estética, constituindo uma tríade inseparável. Do ponto de vista estético, achei interessante os títulos adotarem referências a obras nacionais. Mas é bom nos perguntarmos até que ponto essa técnica não prejudica a fidelidade ao assunto e, portanto, compromete eticamente a informação.
Jornalismo De Fatto é uma excelente idéia que tende a melhorar à medida que amadureça seu projeto editorial e as respostas a questões como ‘o quê’ e ‘para quem escrevo’ fiquem mais claras. E isso não é querer demais, mesmo que seja de um grupo de alunos que ainda está no terceiro semestre de jornalismo, até porque eles têm mais ousadia, dedicação e coragem do que muita gente que já está organizando a formatura. Parabéns, De Fatto!

sexta-feira, 19 de maio de 2006

O bom senso de Ferréz

Enio Moraes Júnior

Esse cara é, sem dúvida, um dos sujeitos mais sensatos e sensíveis deste País. O problema da violência no Brasil vai além desse meniqueísmo manifestado nas ruas e mostrado pela mídia (não sei com certeza em que ordem).
No dia em que quisermos transformar o Brasil numa Nação, numa Pátria, de fato, teremos que adotar como princípio a sensatez de que a solução dos nossos problemas não se resume a matar ou prender uns e deixar viver outros.
Não! Chega de hipocrisia. O bucaco é mais fundo. Há bandidos que são grandes empresários do crime e outros que entraram numa cadeia por terem tido a infelicidade de roubar um pote de margarina, por exemplo, e, em prisões que não recuperam ninguém, formaram-se no crime. Há também muitos policiais honestos e que cumprem seu papel, mas há também corrupção.
Parabéns, Ferréz, pelo bom senso.

quinta-feira, 18 de maio de 2006

PCC: Mais que duzentos reais

Enio Moraes Júnior

Toda a confusão causada pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) em São Paulo teve um só estopim: duzentos reais pagos e recebidos com a idéia de que a corrupção no País é algo corriqueiro e impune. Segundo o jornal Folha de S.Paulo (18/06), o ex-funcionário da Câmara Arthur Vinicius Silva, que atuava na sala de áudio da CPI, teria vendido aos advogados do PCC Maria Cristina de Souza e Sérgio Wesley da Cunha a íntegra do depoimento sigiloso prestado pelos delegados da Polícia Civil de São Paulo Godofredo Bittencourt e Rui Ferraz Fontes, do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Tráfico de Armas.
A íntegra do depoimento, gravada em dois CDs pelo funcionário, foi vendida aos advogados pela modesta quantia duzentos reais, menos de um salário mínimo, mas cujas proporções assustariam se as conseqüências fossem medidas tomando essa mesma referência. O funcionário, técnico de som, disse que estava numa situação financeira difícil e que ganhava mal. Os dois advogados, suspeitos de terem repassado por audioconferência o depoimento a membros do PCC, podem ser presos.
No entanto, o que chama atenção nesses fatos é a ‘naturalidade’ como os acordos, as ilicitudes e os conchavos parecem ser feitos. Por trás de tudo isso, às vezes tenho a impressão de que há a certeza de que as coisas não terão maiores conseqüências e, sendo assim, a impunidade está garantida. Parece tratar-se apenas de mais um oportunismo, mais um ‘jeitinho’ para se resolver as coisas e se conseguir o que se quer – sejam os duzentos reais ou a informação sigilosa – mesmo que para isso se tenha que passar por cima da Justiça e pelos direitos dos cidadãos.
Corrupção e impunidade são como fogo e pólvora. Juntos, formam a química perfeita das explosões que há anos vêm acometendo a vida política brasileira. Licitações de obras públicas que privilegiam parentes, a naturalidade de caixas dois em eleições, vossas excelências rindo e dançando cinicamente aqui ou acolá etc.
São essas as referências que um funcionário – terceirizado – da Câmera tem para o que ele acha ser um pequeno delito. Não é isso que têm nos provado as CPIs de Brasília e parte das elites e das autoridades do País?
Ao lado de toda bandalheira instaurada pela impunidade existe muita pobreza, fome, miséria, e faltam escolas e saúde, por exemplo. Mas falta, sobretudo, exemplos a serem seguidos. Faltam homens e mulheres públicos a serem admirados. E não falo de heróis ou astros da TV, mas de instituições que estejam a serviço dos cidadãos; de pessoas que as representem.
Creio que parte dos crimes do PCC e dessas corruptelas – que são bombas que nos sobressaltam, produto do encontro inevitavelmente destrutivo da pólvora com o fogo, seja uma resposta formas de violência praticadas pelas elites econômicas nacionais e por suas representações políticas que reagem com o mais completo descaso ou faz-de-conta em relação a uma população cada vez mais miserável e sem referência de cidadania e punição. E assim dão o exemplo.
Numa sociedade onde imperam a miséria e a impunidade, esses duzentos reais pagos e recebidos valem mais que o dinheiro em si. Valem o sentimento de participar do jogo, de seguir o exemplo e por isso achar que somos tão espertos quanto aqueles que nos representam. Mesmo que não os admiremos.

quarta-feira, 17 de maio de 2006

O Brasil que tem fome

Segundo dados do UOL (17/05/06), mais de 72 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar. Em outras palavras, 40% da população brasileira “não têm garantia de acesso à comida em quantidade, qualidade e regularidade suficiente”. Além disso, segundo o site, cujas informações vieram da Agência Brasil e foram divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 14 milhões passam fome. Vocês acham que isto é uma forma de violência? Quem violenta estas pessoas?