segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A pauta: o roteiro da reportagem*

Enio Moraes Júnior

O jornalismo é definido pela sua vinculação com o interesse público. As pessoas precisam da notícia e da informação jornalística porque, em grande medida, o serviço prestado pela imprensa as ajuda a viver melhor. Por isso, pensar e elaborar uma boa pauta são o começo de qualquer reportagem jornalística que se coloque a serviço dos cidadãos.
A pauta é o guia, o roteiro, o briefing que vai orientar o repórter em seu trabalho. Conceitualmente, a pauta é a solicitação, por parte do pauteiro, do trabalho que ele deseja que o repórter execute. Mas costumo dizer aos meus alunos que quando o trabalho de apuração da informação é feito por apenas uma pessoa, e não há as figuras do pauteiro, do repórter, do editor etc., mas todo trabalho é realizado por apenas uma pessoa, em vez de pauta, é possível falar em roteiro para o trabalho de reportagem.
Ao contrário do que se pensa, deve haver muito cuidado na hora de pensar e preparar a pauta ou o roteiro de reportagem. Além de se refletir bem sobre o que se quer dizer no texto e a maneira como se fala, é preciso criatividade e estar bem informado sobre o assunto que se quer escrever.
Porém, vale lembrar que a pauta ou o roteiro não devem ser uma camisa de força. Se, por um lado, o repórter deve segui-los com precisão, por outro, em alguns momentos, ele deve abandonar sua rigidez e apostar na sua sensibilidade, no seu ‘faro’. Enfim, na hora de elaborar a pauta ou o roteiro da reportagem:

1. Deixe claro, no início da pauta, a retranca e o tema de que deverá tratar a reportagem.
2. Em seguida, deixe clara a angulação da matéria. Nada, nem mesmo a mais pretensamente neutra cobertura jornalística, é imparcial. A forma de ver o mundo e de enxergar os conflitos que rodeiam os cidadãos – seja da empresa, do jornalista ou do repórter – sempre estão presentes no jornalismo. Por isso, posicione-se logo. Esclareça o posicionamento, a angulação da matéria.
3. Pesquise sobre o assunto: anote dados relevantes e que já estão disponíveis em algum lugar. Hoje em dia, além dos jornais, a internet e sites de busca como Google são boas fontes para essa etapa do trabalho;
4. Em seguida, aponte os elementos a serem problematizados. Esclareça para o repórter – no caso de estar elaborando uma pauta – ou para você mesmo, em se tratando de um roteiro – o que a matéria vai acrescentar às informações já disponíveis;
5. A seguir, indique fontes a serem ouvidas, ou seja; as pessoas que podem ser entrevistadas sobre o assunto. Sugira as possíveis perguntas a serem feitas pelo repórter e, por fim, anote nomes e, na medida do possível, e-mails e telefones das fontes. Neste ponto, lembre-se que nem sempre apenas as autoridades são ouvidas. Sugira também entrevistas com pessoas do povo, e aí nem sempre você precisa citar nomes;
6. Se você dispuser de equipamento fotográfico, não deixe de sugerir ou roteirizar fotos e imagens que devem, junto com o texto, ilustrar o trabalho;
7. No final, indique o número aproximado de laudas que o repórter tem para escrever. Uma lauda, para quem ainda não tem familiaridade com a linguagem jornalística, corresponde a um conjunto de 1400 (mil e quatrocentos) caracteres contados os espaços. Uma matéria jornalística de um tamanho razoável tem, em média, duas laudas.

Com as dicas acima, a sua pauta ou roteiro estão prontos e o seu repórter ou você está mais habilitado a fazer o trabalho de campo: a reportagem. Veja no exemplo de pauta a seguir como podem ficar os tópicos de que falamos acima.

Retranca: Eleições
Tema: O voto do jovem
Data: 20 de outubro
Deadline: 03 de novembro
Angulação: Partindo de uma crítica à situação política nacional, a ideia é discutir a questão do primeiro voto do jovem, tema que interessa a muita gente em ano eleitoral.
Informações preliminares: Corrupção, CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) quase intermináveis, alguns deputados com mandatos cassados e muitos outros absolvidos contando, muitas vezes, com as benesses e os privilégios das amizades do meio político nacional. Este é mais ou menos o desolador quadro da política brasileira e, em meio a isso tudo, a população parece cada vez mais distante da vida e das decisões políticas. Os jovens, muitos dos quais votam pela primeira vez em outubro deste ano, nem sempre sabem quais os critérios que devem levar em conta para escolher seus candidatos.
Fontes e sugestões de perguntas:
Bruno Konder Comparato, cientista político, professor da Universidade de São Paulo:
• Por que a política brasileira passa por essa crise de credibilidade e interesse? O quadro sempre foi este ou agravou-se nos últimos anos?
• É importante o voto do jovem? Quais os critérios que ele deve estabelecer para escolher seus representantes nos espaços políticos nacionais?
• Como o jovem pode acompanhar mais de perto as decisões e cobrar mais dos políticos?
Jovens, especialmente com aqueles que votam este ano pela primeira vez;
• Você acha que participa da vida e das decisões políticas do País? Por quê? Se participa, de que forma faz isso?
• Quais os critérios que você adota para escolher seus representantes?
Temos no mínimo duas e no máximo três laudas para contar essa história. Vamos também fazer fotos de todos os entrevistados e também da fachada da sede do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TER / SP) para ilustrar a matéria.


Contato: Prof. Bruno Konder Comparato
Telefones: (11) AAAA-BBBB/ CCCC-DDDD
E-mail: ABCD@XXX.com.br
TSE: Rua JJJJJ JJJJJ MMMM nNNN

* Este texto é uma reedição de "A pauta: o roteiro da reportagem", de 2006, originalmente publicado em http://www.jornaljovem.com.br/edicao4/editorial_dicas01.php.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom o texto.