quarta-feira, 3 de junho de 2015

Mensagem aos Jornalistas

Enio Moraes Júnior e Luciano Maluly (texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa em 02/06/15)

Imagem: divulgação
Os jornais são um produto importante para a organização da vida em sociedade. Diante  das situações do cotidiano, das orientações às dificuldades (como em grandes catástrofes), tornam-se um bem ainda mais fundamental. As notícias não apenas mantêm os cidadãos em estado de alerta, como também problematizam a atualidade, possibilitando o encontro das soluções e, consequentemente, a construção do futuro.
Diante do atual momento de agitação e perplexidade com os acontecimentos da vida política e econômica nacional – quando o jornalismo se torna ainda mais relevante e necessário – são tomadas atitudes contrárias ao que deveria ser o papel da imprensa: mostrar o hoje a alicerçar o amanhã.
No início deste ano, uma série de dispensas abalou o mercado de trabalho para jornalistas. Mais uma vez, a denominação passaralho – um  jargão agressivo para as demissões em massa nos meios de comunicação, que remete às revoadas de pássaros que destroem tudo por onde passam – tomou  conta desse universo.
É certo que a crise brasileira afeta os diversos setores e não seria diferente com as empresas de comunicação. Porém, limitar a discussão ao universo puramente econômico é simples e imediatista, além de ser um erro cometido pelos sujeitos que preferem fugir dos problemas em vez de enfrentá-los.
Começar o debate pela universidade é o mínimo que os acadêmicos (pesquisadores e docentes) podem e devem oferecer aos comunicadores que hoje estão sem trabalho. Em parte, o problema está na formação, ainda fundamentada demasiadamente no ensino dos meios, ou mais, na aplicabilidade das inovações tecnológicas.
Fala-se muito em convergência, compartilhamento, multimídia, entre outras inovações, sem preocupações que deveriam estar intrínsecas ao processo, como a do uso ou dos custos desses recursos pelos usuários e produtores (empresas e jornalistas). Com base no pensador canadense Marshall McLuhan, surge a seguinte questão, que precisa, com urgência, ser respondida pelos profissionais e professores de jornalismo: E a mensagem?
Não é fácil, mas é obvio perceber que a notícia está estagnada e repetitiva, com os jornalistas mais preocupados em conduzir e reproduzir a agenda e a estrutura social do que fomentar novas linhas editoriais aos periódicos. Exemplos não faltam, mas ficaremos com duas pautas, por serem manchetes atuais e frequentes: o esporte e a política.
Observem que, mesmo com a proximidade dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, os noticiários pouco oferecem sobre as demais atividades físicas e as práticas esportivas, preocupando-se ainda com as mesmas modalidades –  neste caso, o futebol, o automobilismo, as lutas e algumas outras que merecem e conquistaram espaço, como o voleibol. Um exemplo do descaso sobre essa cobertura é o ciclismo, que, apesar do impacto causado pelas políticas públicas observadas com a implantação das ciclovias, continua ausente das páginas esportivas. Com isso, pouco se fala sobre os valores olímpicos e do esporte, como a amizade, o respeito, a excelência, a cidadania, o lazer e assim por diante.
Da mesma forma, a cobertura política permanece alicerçada pelas denúncias e pelo universo dos políticos, que fazem do discurso uma base para fugirem de obrigações para com a população. A notícia é construída apenas com base no declaracionismo, sem oportunidade para a análise e a reflexão, tornando o debate privado e não público.
Detecta-se, assim, a superficialidade das coberturas perante as diversas necessidades fundamentais, como a da educação, do meio ambiente, da segurança e da saúde (higiene, saneamento básico, conscientização etc.), que afetam diretamente a vida do cidadão, como agora com a crise hídrica, o surto de dengue e a escalada da violência.
Ensino do jornalismo
A crise do trabalho talvez seja o ponto crucial e, com base apenas nos exemplos acima, para não nos estender em problemas notórios como o sensacionalismo, será preciso repensar a atual situação do ensino do jornalismo. O susto foi grande, com impacto maior nos jornais, especialmente os impressos, cada vez mais sem tinta, sem texto, sem notícia.
Em qualquer tempo, especialmente em momentos de incertezas como o atual vivido no Brasil, a informação é um “direito do cidadão”, como sempre reforçou o professor José Coelho Sobrinho em suas aulas na USP, especialmente quando há o comprometimento com a pluralidade. Cabe então ampliar o repertório com verdades que, assim como as ideologias, ainda permanecem entre os jornalistas. Ou seja, o conhecimento sugere justiça e igualdade.
O jornalista que conhece o seu ofício está comprometido com o público. Alia-se clara e assumidamente aos interesses daqueles que nele confiam. Mais do que contar os fatos em versões bem apuradas, esse profissional sabe o valor de pautas planejadas e com angulações a serviço dos direitos humanos. Na cobertura dos problemas sociais, o repórter sabe que não tem sentido execrar diariamente os criminosos nos canais de TV, muitas vezes gerando mais violência. Ele amplia a pauta, apura e discute questões como os direitos humanos, a qualidade da educação, a formação da polícia civil e militar, as políticas públicas sobre segurança etc.
O jornalista bem formado – e  empenhado na qualidade do seu trabalho – percebe  que a pior mazela que pode acometer uma sociedade não é a miséria do hoje, mas algo decorrente dela: a ausência de um futuro melhor. Ao narrar o presente, ele olha para o cotidiano com a cabeça adiante, no amanhã. O repórter está, assim, intencionalmente comprometido com o cidadão. O professor Manuel Carlos Chaparro prega que a “a responsabilidade do fazer jornalístico é um alerta para que esta atividade possa, de fato, cumprir a sua missão”. Para isso, as escolas precisam formar profissionais éticos para com a sua profissão e comprometidos com as necessidades da população. Em vez de operar as novas tecnologias e privilegiar determinadas fontes (as celebridades, os políticos corruptos), é possível formar jornalistas que conduzam as pessoas ao diálogo pelas notícias alicerçadas na cidadania e no interesse público.
Logo, é permitido sugerir que o “trabalho” será capa do jornal de amanhã, com os repórteres a mudar a história deste país, permitindo ao público, por meio das notícias, dizer que não deseja mais ser explorado pelo pagamento dos tributos ou das parcelas abusivas da casa própria; que quer ter acesso à escola e a saúde de qualidade; que prefere o Brasil da Paz, como se vangloriam os que compatriotas que moram ou visitam o Japão, a Europa e os Estados Unidos; além do mais importante: ter um emprego justo que lhe possibilite, pelo menos, pensar e criar.
Enquanto faculdades e empresas reproduzirem modelos como os atuais, que padronizam a notícia com propostas que privilegiam o consumo em vez da honestidade, os jornalistas estarão fadados aos fracassos e às demissões. Existem saídas, e uma delas é a autonomia, com a possibilidade da abertura de novos espaços com conteúdos diferenciados, plurais, abertos e independentes.
Uma frase conhecida é atribuída ao jornalista Antônio Maria, que a escreveu diante das agressões que sofreu na década de 1950: “Que bobos! Eles pensam que os jornalistas escrevem com as mãos”. A mordaça imposta pelo mercado não irá calar os repórteres.
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Enio Moraes Júnior (ESPM-SP) e Luciano Maluly (USP) são professores de Jornalismo

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Novos caminhos para o profissional e para a profissão

Enio Moraes Júnior (Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa em 24/02/15)
Quais as chaves para entendermos o mundo em que vivemos? Na maior parte dos casos, parte desse entendimento surge do conhecimento derivado das notícias que recebemos dos jornais. Por conta disso, a investigação sobre as notícias e por que elas são como são constitui a grande questão com que se preocupam as teorias do jornalismo.
No mar de possibilidades sobre as notícias, gênese da atividade da imprensa, as teorias do jornalismo são uma trilha fértil para reflexões que dão margem a uma série de proposições ricas e estimulantes. No processo de formação de jornalistas, a sala de aula é um espaço em que se pode unir teoria e prática, levando o aluno a refletir sobre a sua própria prática e a experienciar a sua própria reflexão.
Um primeiro momento dessa atividade diz respeito a desafiar o estudante sobre o jornalismo e a sua função na vida das pessoas. E mais que isso: fazer o estudante pensar sobre a influência que a mídia e a informação têm, hoje em dia, na qualidade da cidadania.
Esse tipo de questão dá margem a discutir e reforçar o jornalismo como um braço vinculado ao interesse público. Daí emergem questões como a pauta, a reportagem e a redação da informação como inerentes a uma tomada de partido: o do cidadão.
Se o jornalismo toma partido, emergem outras questões: até que ponto e de que forma ele constitui um espelho ou uma construção da realidade? Se essas parecem questões de fácil resposta para jornalistas e professores da área, elas ainda tiram do sério e fazem muitos estudantes dos primeiros anos do curso parar para pensar. Embora muitos deles estejam o tempo todo imersos na produção de entrevistas e textos, nem sempre se dão conta da construção, dos processos e interesses que subjazem a notícia.
A prática do metajornalismo
Gatekeeper, Agendamento e Etnoconstrução – Reflexões e explicações para se saber porque as notícias são como são não faltam. Entretanto, o que as teorias do jornalismo terminam por comprovar é que o fazer jornalístico, embora em grande parte esteja nas mãos do jornalista, não fecha seu ciclo nele. Antes de tudo, essas teorias mostram que o jornalismo não é consenso.
O emaranhado de reflexões sobre a natureza da notícia termina por deixar claro que a gênese do jornalismo é a própria contradição. Especialmente nos tempos de hoje, de mutações no jornalismo, o trabalho da imprensa deixa de ser imputado a um modelo de jornalismo para ser produto de jornalismos, no plural.
Dessa forma, as teorias gestadas no século 20 sobre a comunicação e sobre a construção da informação jornalística, bem como teorias mais recentes que germinam entre autores estrangeiros e nacionais, podem servir de combustível para os novos jornalistas, para os jornalistas em formação.
Aprender conceitos como Gatewatching, Nova História e Fractais Biográficos pode render desafios curiosos na formação dos profissionais da imprensa. As teorias podem ser um alimento importante para estimular o estudante à prática do metajornalismo, seja em pingue-pongues ou em reportagens.
Novas descobertas
Além disso, em outras disciplinas ou momentos do curso, essa teorização pode ajudar a criar pautas com perguntas mais audaciosas para as fontes, incentivar a redação de reportagens com mais pertinência e até elaborar projetos de conclusão de curso, os TCC, mais seguros e mais propositivos.
É importante saber fazer reportagens a partir de uma boa pauta e com boa apuração, mas também pode ser desafiador repensar esses processos a partir das mutações que o jornalismo vive hoje; a partir da possibilidade do gatewatching em revisão ao gatekeeper, por exemplo.
Fora da faculdade, no mercado de trabalho, a conhecimento oriundo das teorias pode trazer novos ares para a construção de identidades profissionais. Além disso, poder pensar a profissão abre espaço para atuações jornalísticas menos conservadoras e para o desenvolvimento de atitudes empreendedoras dentro de organizações que existem no mercado ou mesmo em organizações que ainda sequer pensamos que possam existir.
Uma das poucas coisas na vida que nunca faz mal se for feita em excesso é embarcar no estudo daquilo que se gosta. E nessa viagem, que deve ser prazerosa, professores, estudantes e profissionais de jornalismo devem embarcar com uma certeza: toda viagem leva a novas descobertas. Nesse sentido, refletir sobre o próprio objeto de formação pode ser uma trilha para novos caminhos para cada um e para a própria profissão.
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Enio Moraes Júnior é professor universitário, jornalista e doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA / USP), supervisor pedagógico e professor do curso de Jornalismo da ESPM e autor do livro Formação de Jornalistas: elementos para uma pedagogia de ensino do interesse público (Editora Annablume, 2013)

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Pauta constrói informação a serviço da cidadania

Antonio Rocha Filho e Enio Moraes Júnior (texto publicado originalmente no Observatório da Imprensa em 30/07/2013 )
Os séculos e a experiência do homem a respeito da vida em sociedade foram reformulando o significado da cidadania. Entretanto, ela permanece em nossas memórias mais afáveis ou aguerridas como a potencialidade do ser humano para a realização da vida em comunidade. Para a filósofa de origem alemã Hannah Arendt, é a ação de cada um que caracteriza a vida comunitária. E essa ação nada mais é do que a capacidade de perceber que cada ato de cada indivíduo repercute sobre as outras pessoas, ganhando dimensão social. E isso tem muito a ver com jornalismo.
Na atividade cotidiana da imprensa, cada ação do trabalho de reportagem e de divulgação dos fatos é antecedida por uma ação que talvez seja um momento ímpar na rotina jornalística: a pauta. Talvez surjam daí as grandes reportagens e as grandes ideias que dão fala, voz e vez ao cidadão, fazendo com que o jornalismo cumpra de forma consciente o seu compromisso com a cidadania. Afinal, como dizia o pauteiro Luciano Moraes ao referir-se à rotina da imprensa, “no começo de tudo está a pauta”.
Embora, na prática, os profissionais das redações adotem conceitos de cidadania, há pouquíssima reflexão, nesses espaços, sobre o papel do jornalista e do jornalismo no contexto da vida social. Questões como o direito do leitor à informação completa, à forma de abordar e apresentar determinados temas e as múltiplas versões para os fatos aparecem com frequência nos discursos que defendem, nas redações, um fazer jornalístico ideal. Da mesma forma, os direitos humanos, principalmente quando se fala de acusações contra algum personagem da notícia, além de questões éticas na apuração da reportagem são sempre alvos de discussões entre jornalistas. Entretanto, apesar de fazer, no dia a dia, o que seria uma discussão sobre questões de cidadania, na maioria das grandes redações a prática não parte de uma consciência do jornalista sobre as relações sociais.
A pauta na formação do jornalista
A atividade cotidiana da imprensa acaba sendo desenvolvida de forma tão mecânica que editores e repórteres esquecem que o jornalista tem um papel social e que, ao cobrir ou publicar um fato, está no pleno exercício dessa função. Ademais, há casos em que a perversa lógica industrial que está por trás da produção das notícias nos jornais e sites atropela qualquer questão ética. Especialmente nas grandes redações, o que importa é colocar a notícia de pé e publicar. E aí, o jornalista que não esquece o compromisso da imprensa com a cidadania e com o cidadão precisa ter habilidade para garantir um mínimo de qualidade e estômago para suportar quando as coisas não andam como devem andar.
Um amálgama para ligar o que se pensa sobre o jornalismo e o que se faz no jornalismo talvez seja exatamente a pauta. É essa ação, é esse input que está “no começo de tudo” que vai determinar a sequência da atividade da reportagem. Afinal, é o momento em que se podem discutir as questões éticas e de cidadania de cada notícia e as implicações da cobertura para a vida dos cidadãos.
Para professores de jornalismo, levar o pensar e o fazer da pauta para a sala de aula pode ser uma questão ainda mais enriquecedora. Como apresentar aos alunos a importância da cidadania na produção das notícias? Assim como pode acontecer nas redações, um caminho coerente parece estar no momento de discussão da pauta. Por essa razão, ela precisa ser mais valorizada não apenas nas redações, mas também na própria formação do jornalista.
Um mundo mais democrático
Do ponto de vista do compromisso da imprensa com a cidadania, talvez o decisivo momento da pauta possa ser o fiel da balança entre o jornalismo que se julga estar fazendo e aquele que se deve fazer e entre o jornalismo que se julga ensinar e aquele que deve ser ensinado.
Com é possível refletir a partir da provocação de Arendt, a pauta constitui uma ação. Dessa forma, ela tem desdobramentos importantes na vida social, seja informando os cidadãos ou formando profissionais. E mais que isso: por alicerçar a atividade da imprensa, ela é fundamental no exercício de um jornalismo empenhado na construção de um mundo mais democrático e melhor.
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Antonio Rocha Filho e Enio Moraes Júnior são, respectivamente, jornalista, pós-graduado em Comunicação com o Mercado e professor do curso de Jornalismo da ESPM e jornalista, doutor e mestre em Ciências da Comunicação pela ECA / USP, professor do curso de Jornalismo da ESPM-SP e autor do livro Formação de Jornalistas: elementos para uma pedagogia de ensino do interesse público, da editora Annablume, 2013

domingo, 5 de maio de 2013

Olhos que brilham

Enio Moraes Júnior 
(Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa)
A difícil concorrência com as tecnologias e a aparentemente inglória batalha contra o Facebook em sala de aula: eis uma luta diante da qual não basta tentar inibir o uso dos computadores nas aulas. Os tablets, os ifones e os celulares sempre estão por perto, nas mãos de alguns alunos que, basta uma distração do professor, deslizam seus ágeis dedos pelo teclado dos aparelhos. Quem ensina e quem estuda sabe bem do que estou falando...
Mas e daí, como enfrentar esse tipo de questão de forma propositiva? A educação, além de seus aspectos intelectuais, tem uma esfera importante: a dimensão relacional. Talvez esse tenha sido um dos principais pontos que aprendi com meu coorientador de doutorado, o premiado e reconhecido educador português João Formosinho, da Universidade do Minho. Parte da tese sobre formação de jornalistas que defendi na USP há dois anos, e que acaba de ser lançada em livro, trata exatamente dessa questão.
Esse aspecto diz respeito à forma como professor e alunos se relacionam em sala de aula e como estendem essa relação para além dela. Em outras palavras, a dimensão relacional refere-se à maneira como esses dois atores constroem o que há de mais nobre no processo educativo: o sentido de uma educação para a vida, para a construção do indivíduo holístico, pleno, feliz.
Paciência, estratégia e cautela
Assim, como professor, tenho procurado investir em um processo pedagógico baseado na troca de confiança com os alunos. Menos proibição e mais estímulo à responsabilidade de cada uma das partes. Conversa, diálogo e parcerias pedagógicas entre professor e turma. O que tenho buscado, como educador, não é apenas que os estudantes se sintam obrigados a prestar atenção às aulas e desperdicem menos energia distraindo-se nas redes sociais. É algo mais importante: é que eles se responsabilizem pelo que vieram fazer em sala de aula – aprender jornalismo – e que, de resto, se responsabilizem por suas vidas e por seu futuro. Mas reconheço: o êxito desse tipo de prática nem sempre é fácil de ser alcançado.
Numa sociedade em que as pessoas resistem a amadurecer, como têm observado especialistas da área comportamental, como Contardo Calligaris, e diante das quais as tecnologias e as redes sociais parecem um braço importante da “adolescentização”, o processo educativo de verdade é um caminho que exige paciência, estratégia e cautela. “Não desista desse caminho, Enio. A educação é um pouco isso também”, diria meu coorientador. Mas como fazer? Eis uma das questões diante das quais tenho me colocado desde que comecei a pesquisar formação de jornalistas, ainda no mestrado na USP, em 2003, e que levei para o doutorado, defendido em 2011.
Durante oito anos, entrevistei cerca de sessenta pessoas, entre alunos, educadores e professores de Jornalismo. Tive algumas pistas: ser transparente nos critérios avaliativos, integrar teoria e prática no processo educativo e estimular o aluno a discutir e responsabilizar-se por sua própria formação são algumas direções.
Meus olhos também brilham
Apesar do trabalho que parece inglório, algumas vezes, em outra parte dos casos, tenho tido experiências recompensadoras. Acompanhar a desenvoltura de alguns alunos em experiências laboratoriais ou no mercado de trabalho tem rendido boas emoções e muita satisfação. Inevitavelmente, é claro, são aqueles que mais se responsabilizam por sua formação e comprometem-se, de fato, com as aulas, que se dão melhor no trabalho e na vida. E não estou falando de dinheiro, mas de algo mais fundamental: de um certo brilho nos olhos.
A aluna que está escrevendo perfis, cada vez mais desenvolta, o estudante de dedicação exemplar que foi para a revista, o garoto apaixonado por futebol que foi fazer cobertura radioesportiva, o aluno e a aluna que entenderam o que é responsabilizar-se por sua formação (e por sua vida) e que foram para a emissora de TV. Estão todos aprendendo, mas com os olhos cheios de brilho, de vida, de futuro. Recentemente, um aluno entregou-me uma reportagem sua que saiu publicada em um pequeno jornal do interior paulista. Um texto perfeito (eu sou professor de produção de textos jornalísticos), tão bem escrito que me encheu de orgulho. Estava tudo lá: bom título, bom lide, aspas oportunas, bom fecho para a matéria.
Embora tenha colhidos pistas, nesses anos todos pesquisando formação de jornalistas, ainda não cheguei a uma fórmula sobre como ensinar e como cumprir minha tarefa de fazer os olhos de todos os meus alunos brilharem. Talvez isso seja impossível e, certamente, tem muito a ver com outros aspectos de formação humana de cada um deles. Ou talvez isso seja mágica... De minha parte, entretanto, vou continuar tentando, mesmo que tenha que enfrentar cotidianamente as armadilhas que hoje se colocam à educação, como o uso displicente do Facebook e das tecnologias em sala de aula, por parte de alguns alunos, a cada distração do professor.
“Desafios sempre estiveram por aí, Enio. Enfrente-os”, diria Formosinho. E vale a pena enfrentá-los. Afinal, nada mais recompensador do que o brilho nos olhos dos estudantes que aprendem responsabilizando-se por sua formação, por sua felicidade, por seu futuro. E confesso: é diante do encontro com esse tipo de aluno que meus olhos brilham também.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Reflexões sobre a formação do jornalista

Beatriz Trezzi Vieira (publicado originalmente no Jornal da USP em 08/03/13)
No livro Formação de jornalistas – Elementos para uma pedagogia de ensino do interesse público, publicado pela Editora Annablume, o professor Enio Moraes Júnior buscou refletir e propor parâmetros para um modelo pedagógico de ensino do interesse público na formação dos profissionais de jornalismo.
A pesquisa, que é resultado do doutorado em Ciências da Comunicação obtido em 2011 na Escola de Comunicações e Artes da (ECA) da USP, tem como universo entrevistas com professores de Jornalismo de quatro instituições brasileiras e portuguesas, bem como a análise da estrutura curricular dos cursos de Jornalismo nos dois países. As instituições pesquisadas no Brasil foram a Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, e a Universidade Federal de Sergipe. Em Portugal, a pesquisa foi feita nas Universidades do Minho e Nova de Lisboa. Entre os entrevistados está o educador português João Formosinho, professor catedrático do Instituto de Educação da Universidade do Minho, um dos principais defensores de uma formação ética que priorize as relações humanas, em contraponto ao modelo de “educação de massa”, que, no entender do educador, atualmente é adotado pelas instituições de ensino superior.
Enio Moraes Júnior é jornalista formado pela Universidade Federal de Alagoas e, atualmente, leciona no curso de Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo.
O que o motivou a fazer a pesquisa?
Enio Moraes Júnior – A ideia de pesquisar formação de jornalistas nasceu de uma necessidade colocada pela minha própria carreira, como professor de jornalismo. Como acontece com a maior parte de nós, que somos professores de jornalismo no Brasil, geralmente partimos para a sala de aula com conhecimentos do que é jornalismo, seja do ponto de vista teórico ou prático, mas quase sem conhecimentos na área de educação. Por conta disso, em um determinado ponto da minha carreira, senti necessidade de entender melhor essa área para melhorar minha prática docente e, na medida do possível, socializar isso. Por sua vez, a ideia de encontrar o lugar da cidadania e do interesse público nessa formação veio por conta de uma noção muito clara que eu sempre tive na minha formação e prática como jornalista: a de que é o interesse público, o interesse do cidadão, que deve nortear o trabalho da imprensa.
Quais as principais conclusões da pesquisa junto às instituições pesquisadas?
E.M.J. – Ao todo foram entrevistados professores de quatro instituições de ensino de jornalismo: duas no Brasil, a Faculdade Cásper Líbero e a Universidade Federal de Sergipe, e duas em Portugal, a Universidade do Minho e a Universidade Nova de Lisboa. Como eu digo na conclusão da pesquisa, que eu prefiro chamar de “considerações finais”, porque é um resultado que ainda dá margem a muitas outras pesquisas, a grande contribuição da tese que agora vira livro é sistematizar alguns elementos sobre o ensino do jornalismo.
Quais são esses elementos?
E.M.J. – Eu destacaria, em primeiro lugar, a necessidade de valorizar os conhecimentos vindos das ciências sociais e humanas, interdisciplinarizando-os, de forma clara, na própria prática laboratorial. Eu destacaria também algo que é relativamente recente: a necessidade de estimular no aluno de jornalismo uma convivência mais produtiva e mais ética com as mídias sociais, que hoje são um importante canal de informação para o cidadão. Mas há também alguns aspectos que apareceram e que, pelo que eu percebo, os professores de jornalismo prestam pouca atenção. Nesse sentido, eu destacaria a importância da dimensão relacional da formação do jornalista. Ou seja: não são apenas nos conteúdos passados para o aluno que reside o ensino do jornalismo. A própria maneira como o professor lida com esse estudante, em sala de aula, é um importante elemento formativo. Esse é um canal por meio do qual o aluno assimila o respeito pelo outro, a capacidade de discutir uma pauta ou ouvir um entrevistado, por exemplo. Além disso, no caso daqueles docentes que estão no “batente” da profissão, o seu próprio posicionamento nesse espaço profissional é também um aspecto relevante e que termina por influenciar o estudante. Sua conduta ética pode se tornar, para esse aluno, uma inspiração, uma porta para um aprendizado acerca da responsabilidade social da profissão.
De maneira geral, como os cursos de jornalismo contribuem para a formação cidadã e voltada para o interesse público?
E.M.J. – A ideia do interesse público e da cidadania está presente no próprio documento que norteia a formação dos nossos jornalistas: as Diretrizes Curriculares. Sendo assim, penso que de maneira geral os cursos valorizam, sim, essa formação. Sempre me incomodou muito uma tendência a se falar de formação do jornalista a serviço do mercado como uma oposição à formação a serviço do cidadão, como se essas duas instâncias fossem excludentes uma em relação à outra. E o que eu percebi também neste estudo é que elas são complementares e igualmente importantes na sociedade que temos hoje.
Qual é o principal diferencial das instituições de ensino de jornalismo no Brasil e em Portugal?
E.M.J. – Eu não percebo muitas diferenças. Entretanto, o que mais chamou minha atenção é a forma como os portugueses estão se relacionando, hoje, com o Tratado de Bolonha, que unifica o ensino superior em grande parte dos países da Europa. Eles estão altamente críticos, sobretudo, à redução da duração dos cursos superiores de quatro para três anos. No Brasil, nosso ciclo ainda dura quatro anos, mas os conteúdos das formações são muito próximos. A diferença entre lá e cá, e isso é muito claro na Universidade do Minho, é que os portugueses foram estimulados a aglutinar teoria com prática desde os primeiros anos do curso. Aqui no Brasil ainda há uma tendência – embora eu ache que já muito questionada – a uma teorização seguida da prática.
Qual a principal proposta da pesquisa?
E.M.J. – A ideia da pesquisa é estimular jornalistas, professores e estudantes da área a debater e qualificar a formação profissional. Eu acho que nós precisamos, no Brasil e em alguns países que habilitam jornalistas, seja em cursos superiores ou em pós-graduações, estar atentos a essa questão. Temos muitos nomes, como José Coelho Sobrinho, que foi meu orientador de mestrado e doutorado na USP, pensando e formando gente interessada em discutir formação de jornalistas. Há também muitos espaços, como fóruns de professores e congressos de jornalistas envolvidos com isso. A ideia da pesquisa é exatamente fomentar essa discussão no sentido de qualificar a formação dos nossos jornalistas. Eu acho que, quanto mais séria e qualificada for a imprensa de um lugar, melhor para os cidadãos e para a cidadania. E isso passa diretamente, em minha opinião, pela qualidade da formação que nós estamos dando aos nossos jornalistas.
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Beatriz Trezzi Vieira, especial para o Jornal da USP

sábado, 12 de maio de 2012

Webjornalismo, uma janela para a imprensa

Enio Moraes Júnior
(Texto originalmente publicado na Revista Alterjor, da USP)

Magaly Prado é de uma geração que nasceu, cresceu, graduou-se e começou a trabalhar sem sequer pensar que um dia poderia existir algo chamado internet. Aliás, a geração de jornalistas a que pertence Magaly pautou, apurou e publicou muita informação sem Google, Twitter ou Facebook. Entretanto, hoje, essa mesma geração conhece bem as armadilhas e as facilidades do jornalismo produzido com auxílio das tecnologias digitais. E Magaly Prado, autora de Webjornalismo, não é uma exceção.

Com uma linguagem coloquial, a obra é endereçada a usuários e interessados em web, gente que não vacila diante das ebulições provocadas pelo ciberespaço. Se, por um lado, o livro ganha ares de manual de webjornalismo, por outro, é enriquecido pelo fôlego da autora, por entrevistas e depoimentos de jornalistas e pela apresentação de casos que apimentam discussões importantes sobre novos significados do jornalismo e, consequentemente, dos fazeres e atribuições dos profissionais da imprensa.

Um ponto alto da obra são as desmistificações de alguns mal entendidos entre conceitos convergentes do webjornalismo, como jornalismo colaborativo e jornalismo multimídia. Percurso que, aliás, a autora esboça na apresentação da obra e aprofunda com firmeza nos capítulos seguintes. Magaly Prado trata do surgimento do jornalismo na web e, a partir da Arpanet norte-americana dos anos 60, traça um painel das mudanças que as tecnologias estão trazendo para o jornalismo. Integração entre impresso e digital e entre jornalistas e colaboradores são algumas das mudanças assinaladas.

O novo fazer jornalístico evocado pelo ciberjornalismo, pela união entre o papel e a web, as implicações disso em uma nova arquitetura de informação e navegação não são apenas tomados em uma abordagem pragmática, reduzida a normas, a regras que plasmam um modus operandi para a atuação dos profissionais da imprensa. Pelo contrário, o novo fazer jornalístico é sistematicamente problematizado.

Como não podia deixar de caber a um livro sério sobre jornalismo, as questões éticas na rede são ali discutidas. Problematizações hoje imprescindíveis para o webjornalismo, como a autoria e o furo jornalístico, são abordados dentro de matizes de uma ética que deve permanecer intacta, ainda que as tecnologias tenham alterado o fazer da profissão.

Ademais, o livro aglutina discussões sobre pontos ainda pouco sistematizados nos ambientes acadêmicos, embora muito comuns no jornalismo, como o uso dos blogs e das redes sociais pela imprensa, a exploração do potencial da web 2.0 e o papel do público e do jornalista na construção da notícia.

E nesse ponto vale uma ressalva. Sem ser essa sua intenção, o livro levanta algumas questões como: o público está preparado para participar do jornalismo colaborativo? Quais, do ponto de vista desse público, as regras de conduta a seguir? Quais os limites da sua participação e como torná-la mais efetiva sem que se
comprometa o papel do jornalista nesse processo? Essas são provocações esboçadas por Magaly Prado e em relação às quais ela poderia entusiasmar-se e se debruçar para atender às inquietações causadas aos seus leitores. Se o fizer, o fará com a mesma competência que demonstra neste trabalho.

Em síntese, Webjornalismo ensina jornalismo para os próximos anos não apenas como técnica, mas como estética e ética. Como diz Manuel Carlos Chaparro, professor e pesquisador de jornalismo da Universidade de São Paulo, é a tríade ética, técnica e estética do relato veraz que faz o jornalismo de qualidade a serviço da democracia. É com base nessa mirada que o trabalho de Magaly Prado esclarece pontos para que o jornalismo contemporâneo seja entendido como uma web para o jornalismo, uma rede em que jornalistas, conteúdo e público se encontram, negociam seus papéis e constroem a informação indispensável para a cidadania e para o interesse público.

O fôlego, a leveza e a atualidade da obra constituem prova de que Magaly Prado fazem parte de uma geração que adora desafios e que tem o que dizer sobre um jornalismo que fez consolidar-se o webjornalismo, e aí não se tem mais como parar. Mas tudo isso sem se perder de vista do fundamental do jornalismo. Como sentencia a autora, embora a plataforma digital altere o fazer jornalístico, jornalismo é jornalismo em qualquer plataforma. Em outras palavras, o que Magaly Prado propõe é que o webjornalismo será tão melhor quanto mais a serviço dos interesses dos cidadãos ele se colocar. Por isso, é importante que a teoria e a praxis desse jornalismo sejam conhecidas.
 
SERVIÇO:
PRADO, Magaly. Webjornalismo. Rio de Janeiro: LTC, 2011. 241p.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Toda chuva molha, mas nem sempre transtorna

Enio Moraes Júnior (texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa em 31/01/12)
Estava prestes a sair para trabalhar. Ao abrir a janela do apartamento, deparei com uma chuva densa e intermitente. As águas corriam caudalosas rentes ao meio-fio da calçada. Era mais uma dessas cenas comuns na grande São Paulo nesse início de ano e que tem causado transtornos na vida de muita gente. Do outro lado da rua, um grupo de adolescentes brincava com a água. A chuva parecia não ter dificultado em nada suas vidas. Eram uma exceção, provavelmente, e seus risos e brincadeiras me fizeram parar para pensar por que alguns de nós costumamos rir quando estamos na chuva.
Arrisquei um palpite: quando ficamos reféns dessas gotas d’água caídas do céu lembramos que nosso poder sobre o mundo e sobre as coisas é finito. Viramos crianças novamente. Desse jeito, excetuando-se casos de maiores tragédias, só nos resta nos molhar e rir daquela situação inusitada, às vezes constrangedora. Foi aí que pensei o quanto tenho lido, nos jornais, reportagens tensas – porém necessárias – sobre as tragédias da chuva Brasil afora. Mas também lembrei que Fred Astaire cantou na chuva e que, especialmente em São Paulo, o ar fica mais puro depois dos temporais. Pensei que os jornalistas bem que poderiam, além das reportagens sobre os transtornos causados pela chuva, escrever crônicas para contar histórias como a dos adolescentes que eu via pela janela.
Ao lembrar as reportagens que tinha lido e lamentar a ausência de crônicas, percebi que exercitava meu pensamento no âmbito dos gêneros jornalísticos. E, assim como observar a chuva, esses gêneros podem ser um caminho curioso para aprender e fazer jornalismo.
Ensaios que aprofundem a discussão
Em uma obra recente, os pesquisadores José Marques de Melo e Francisco de Assis (2010) – articulados a outros autores cujos textos constituem capítulos da obra – sistematizam cinco gêneros jornalísticos na imprensa brasileira e estabelecem, em cada um, formatos específicos. Segundo os autores, o gênero informativo, por exemplo, apresenta pelo menos quatro formatos: nota, notícia, reportagem e entrevista. Os demais gêneros – opinativo, interpretativo, diversional e utilitário –, por sua vez, também guardam suas modalidades.
Entretanto, essa classificação não é estanque. Gêneros e formatos podem variar espacial e temporalmente. Ou seja: ao ser um caminho para se compreender o jornalismo praticado em uma sociedade de um determinado tempo, os gêneros são também uma pista para se compreender cada grupo social. Essa já é, em si, uma razão para se ensinar e se estudar os gêneros jornalísticos como parte da formação do profissional da imprensa.
Mas há outras. O entendimento dos gêneros é uma forma de o jornalista compreender e qualificar a sua própria atuação. São o estudo e o ensino dessas questões que permitem pensar, na hora de conceber uma pauta e construir uma informação, questões do tipo: qual o melhor gênero e, dentro desse gênero, qual o formato mais coerente para elaborar a informação que pretendo transmitir? Dentro da rotina jornalística, muitas vezes, o que se pensou que poderia informar por meio de uma reportagem pode funcionar melhor se for publicada como uma entrevista pingue-pongue em que a fala de um dos entrevistados ganhe força, autonomia.
Do lado do público, pensar questões desse tipo pode ser fundamental para resolver outras equações, como por exemplo: qual o melhor gênero e formato para estabelecer uma comunicação mais qualificada com o público? Às vezes, o público está tão ávido por informações abalizadas sobre um assunto que uma reportagem não é suficiente esclarecê-lo. Jornalistas experientes sabem disso. Eles sabem que pode ser hora de, às reportagens das páginas noticiosas, articular, nas páginas de opinião, ensaios escritos por especialistas que aprofundem a discussão.
A chuva ensinou
O ensino dos gêneros jornalísticos pode ganhar conotação especial no webjornalismo. Como articular os recursos multimidiáticos para elaborar a informação e atingir, de forma mais qualificada, o público da web? Mesclar jornalismo informativo com jornalismo opinativo e articular reportagens em profundidade e testemunhos em vídeo, por exemplo, pode ser um caminho para a construção da informação online. Mas para isso, precisa-se também estudar e compreender os gêneros.
Alguns minutos depois, as gotas d’água insistiam em cair do céu. Tomei o elevador do prédio e saí de casa em direção ao trabalho. Na rua, voltei meu olhar, mais uma vez, para as pessoas que caminhavam por ali. Observei que a rotina delas estava definitivamente alterada. Não apenas pelos inconvenientes de tanta água, mas também pelos risos, hora constrangidos, hora quase infantis, que as gotas faziam brotar.
Toda chuva molha, mas nem sempre transtorna. E a chuva que, naquela tarde, caía em São Paulo, ensinou-me um pouco mais sobre jornalismo. Aprendi que o ensino dos gêneros é importante para lembrar que o jornalismo tem muitos outros lados de histórias para contar!
Referências
BELTRÃO, Luiz. A Imprensa Informativa: técnica da notícia e da reportagem no jornal diário. São Paulo: Folco Masucci, 1969.
CHAPARRO, Manuel Carlos. “A Eficácia das Formas não se opõe à Arte de Escrever. O Xis da Questão”. Disponível em: www.oxisdaquestao.com.br. São Paulo: sd.
MARQUES DE MELO, José. Jornalismo Opinativo. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003.
MARQUES DE MELO, José: ASSIS, Francisco de. Gêneros Jornalísticos no Brasil. São Paulo: Metodista, 2010.
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[Enio Moraes Júnior é jornalista e doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo eprofessor dos cursos de Jornalismo da ESPM-SP e da ECA-USP]